impregnada de ti


não estou no Pará, nem tampouco no Paraná
mas os dois não saíram de mim
sigo cheia de águas,
da lama do mangue que impregnou meu corpo em um gesto
denso de um corpo entregue a um outro tempo
os sons do mangue seguem brotando dentro,
e as águas do combu, e lamas entre os dedos me acordam
todos os dias emoldurados pelo amanhecer
o corpo vento do marajó, o corpo água dos rios paraenses
o corpo lama da ilha do cardoso
vou deixando os lugares e carregando comigo outros tempos impregnados em gesto do corpo que agora me habitam em respirações profundas, em toques na pele, em sons que se ampliam, em sentidos aguçados de uma vida que pulsa

acordo todos os dia como quem ouve o riomar movendo na areia
como quem sente a brisa de joanes, como quem se move em gestos lama, em gesto árvore, em gesto fungo
a cartografia afetiva dos lugares de passagem, e dos lugares de ficar, criam em mim a cartografia de gestos vivos e serenos que se instauram no corpo como uma inscrição delicada e afetiva de encontros, um mapa de outros corpos que surgem para aumentar a multidão que sou eu, que somos nós.

mangue, ilha do cardoso, pr

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