nem tudo me parece familiar

eu peguei uma foto dela
fiquei ali
olhando, olhando,
me deparei com um vazio dentro de mim
nada naquela imagem era algo pra mim,
não a reconhecia, nem tampouco o lugar
fiquei ali mais um pouco e
de repente a paisagem se tornou familiar
não porque fosse familiar, mas porque trouxe com ela uma cor de dentro de mim
não acordou no corpo um lugar muito distante
de afetos, de desejos, de esquecimentos
fiquei ali mais um pouco e de repente me dei conta que a imagem era um lugar de encontros
aos pouco ela ia me contando seus segredos e
despertando em mim os gestos que a continham

eu deixei a foto dela ali
fui me afastando devagar e me dei conta que o tempo mudou
o vazio agora foi se preenchendo de um eu desconhecido
encantado em si
a paisagem agora familiar escorreu outras cores no meu corpo agora tomada pelas linhas, pelo tempo e por tudo que aquela imagem não tinha de conhecido mas sucitava em mim de novo

me deparei com um cheio dentro de mim
vazio daquela imagem mas cheio de outras que vieram com o tempo em que me demorei ali.

eu vejo seu corpo nas imagens mesmo quando você não está la

eu ouço o seu caminhar de longe
porque já não está mais fora de mim

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